A caçada sobre os espelhos d’água.

Elters, uma entidade do mundo de Somniarium, despertou em meio ao bulício das ruas de Kyoto, no Japão, durante um festival de verão na era Meiji. As lanternas coloridas lançavam uma luz mágica sobre as vielas, enquanto a chuva fina refletia os brilhos etéreos das luminárias sobre os telhados de ardósia. Mei Lee, uma adolescente frágil e desamparada, servia como receptáculo para Elters enquanto ele buscava o Pesadelo, também oriundo do mundo dos sonhos, conhecido como Sarge. Esse último, após tomar o corpo de um ronim, tornou-se um brutal homicida que aterrorizava as ruas de Kyoto.

No decorrer de sua busca pelas ruas movimentadas e festivas, Elters não podia ignorar a miséria que o cercava. Dezenas de mendigos, incluindo crianças, enfrentavam as duras condições de vida. Uma lágrima escorreu pelo rosto de Elters, um sentimento que não era seu, mas de Mei Lee, que se emocionava ao vislumbrar sua mãe ao longe. Com esforço, Elters conseguiu assumir o controle, afastando temporariamente as emoções da garota enquanto seguia em direção aos becos mais escuros e perigosos da cidade.

Nos becos sombrios e infestados de problemas sociais, Elters finalmente encontrou Sarge, o Pesadelo que se ocultava no corpo de Souji Hideo, conhecido por seus atos hediondos. Ele acabara de perpetrar mais um ato brutal, deixando uma vítima indefesa para trás. Elters manteve seu olhar firme em Sarge, o Pesadelo libertado que utilizava o corpo de Souji Hideo como um instrumento para espalhar o terror pelas ruas de Kyoto. Sob a chuva fina que obscurecia os sons da cidade adormecida, eles se confrontaram nos becos sombrios.

Elters: "Você acha que seus atos são justificados, Sarge? Usar os inocentes como peões em seu jogo de tormento?"

Sarge: (com um sorriso sarcástico) "E você, Bastião, se vê tão diferente? Usando esta garota como um escudo enquanto tenta me destruir. No final, somos todos marionetes de nossas próprias necessidades."

Elters, sereno e convicto em sua empreitada, respondeu: "Não somos iguais, Sarge. Eu protejo o equilíbrio, enquanto você o perturba com sua sede de perpetuidade."

Sarge, a Assombrassão, replicou: "O equilíbrio é uma ilusão, Bastião. No Somniarium, como no mundo desperto, todos somos prisioneiros de nossa própria natureza. Temos um criador e ele tem seu percentual em tudo isso, seja nas glórias ou nas abominações de nossas ações."

O confronto entre Elters e Souji foi inevitável, uma batalha de vontades e habilidades entre o Bastião Sonolente e o Pesadelo Libertado.

Elters e Souji entraram em um embate feroz, suas energias criando uma Tormenta, uma cúpula de energia onde a realidade se distorcia para aqueles com sensibilidade ao Somniarium. Para os transeuntes, no entanto, parecia apenas uma cena estranha: pessoas paradas sob a chuva, olhando fixamente para o nada com expressões vazias. No momento em que Elters finalmente conseguiu subjugar o Pesadelo, prendendo-o em um estado de torpor temporário, ele olhou para a cidade adormecida à sua volta. Mei Lee estava inconsciente, seu corpo frágil agora um receptáculo vazio, deixando-a à mercê da própria sorte nas sombras da cidade caótica, como uma lebre em meio à lobos famintos. Elters partiu, regressando ao Somniarium, aguardando o despertar de sua própria existência, enquanto observava o triste possível destino da garota.

Foi então que um questionamento sutil ecoou na mente de Elters, uma reflexão que atravessou as camadas de sua existência como Bastião: os Pesadelos, criaturas nascidas do sofrimento humano, buscavam apenas a continuidade de sua própria existência. Sacrificavam almas inocentes, como a de Mei Lee, para prolongar sua própria tormenta. Era um ciclo de dor e redenção, um paradoxo que desafiava a ordem do Somniarium.

Enquanto contemplava o rosto sereno de Mei Lee, Elters se perguntou se ele próprio não estava perpetuando um ciclo semelhante. Em sua busca pela ordem e equilíbrio, ele também causava dor e transformava vidas inocentes em campos de batalha no mundo desperto. O que o diferenciava, um Bastião, das ações dos Pesadelos, era apenas a ótica e convicção superficiais de seu observador e senhor. Elters, o Bastião, permaneceu ali por um momento, imerso na quietude da noite e no zumbido das gotas de chuva afogando seus pés e suas incertezas, ponderando sobre o preço de sua própria existência no eterno ciclo de sonho e realidade.

FIM