- Essa é uma das histórias que criei para compor o mundo de RPG que jogava com meu amigos.
Beleria é um reino antigo no continente de Ethelon, mais antigo que muitos outros que permanecem e muitos outros que deixaram de ser.
Os elfos foram seus fundadores e primeiros habitantes, os filhos de Elondruel, Herdeiros da Luz Prateada, eram eles, pois descendiam de Artis, e naquele tempo davam o nome de Bellian para aquele lugar.
A atual Beleria foi fundada sobre as ruínas da antiga Bellian que caiu sob o poder do que um dia fora o maior dos dragões que habitou As Terras Conhecidas, seu nome era Khrögmar, O Gigantesco, A Devastação Alada.
Muitos foram os anos na contagem dos elfos antes que descobrissem que ali, jazia em sono profundo, o ser grotesco, pois ao primeiro avistarem grande sombra no horizonte acharam se tratar de nada mais que terreno elevado, um morro qualquer. Fizeram inúmeras incursões desbravando e reconhecendo a Nova Terra e nomearam aquela região de Cinellebard, A Terra da Montanha Solitária, e fizeram dela um novo Reino.
Ergueram Bellian ao longe da Montanha Solitária, na qual sob os pés, adormecido , continuava Khrogmar em seu torpor. Mas os elfos não se bastaram da terra apenas, e como é de seu feitio foram buscar ao fundo das raízes daquela montanha por ouro e minério, para a feitura de suas joias. Começaram a escavar as suas encostas, que a princípio era fofa como terra arada, e ficaram duvidosos. Mas o receio não os impediu. Continuaram a cavar até chegarem em rocha firme, e aquela camada mostrou-se quase que impenetrável. Continuaram a golpeá-la com suas ferramentas e finalmente a transpassaram. Sentiram o chão sobre os seus pés tremer, como se os pilares do mundo houvessem tombado, um som gutural emergiu rastejante das profundezas, tomando mente e coração daqueles que escutaram. Muitos deles neste momento fugiram apavorados, achando que aquela montanha era amaldiçoada e espíritos malignos haviam sido atormentados e despertados, mas o que havia sido perturbado mostraria-se pior do que qualquer imaginação.
Aqueles que continuaram a escavar notaram que a terra era vermelha como o fogo, e da fissura que abriram, a água jorrou espessa e rubra. A montanha então tremeu mais uma vez, e grande foi o deslizamento de terra que se seguiu. Grande parte da gente que ali ainda estava foi morta neste momento, afundados em terra, e enterrados vivos, e os poucos que conseguiram afastar-se a tempo correram sem cessar até Bellian.
Enquanto corriam, alguns olharam para trás, desafiando a sorte e a sanidade, pois o que viram foi apenas uma gigantesca forma se desdobrando lentamente de dentro da terra, e sua silhueta era imensurável, a terra derramava-se ao seu redor o descobrindo, e dava-lhe o ar de um véu espesso, que com a poeira levantada cobriu os céus e fez-se entardecer em meio ao dia.
Enquanto a criatura despertava de seu sono duradouro os sobreviventes chegaram à cidade e dirigiram-se a Arëdel, filho do Senhor Ereadel e lhe contaram sobre o que haviam ouvido, sentido e visto. E desesperados todos eles caíram em prantos chorosos por suas vidas, pois haviam testemunhado grande terror que agora havia fixado o medo em suas mentes.
Ereadel, O Rei, pensou em reunir uma grande hoste a fim de ter-se com a criatura, pois se os relatos houvessem de ser verdade pouco resolveria caso decidissem correr. Mas mudou sua mente e julgou que a criatura poderia sentir ameaça vinda dos seus guerreiros, e que os atacasse ao avistá-los sem exitar, calculou ele que a força de tal ser seria descomunal assim como a descrição da sua forma. Pensou então em tentar disfarçar-se pelas sombras e aproximar-se da monstruosidade, mas temeroso, adiantou-se mais uma vez e pensou que a criatura poderia sentir-se afrontada e ridicularizada caso o descobrisse, e dessa forma também, acabasse ele morto antes que pudesse descobrir coisa alguma.
Percebeu que lhe restava então ir sozinho e de fronte limpa, e assim o fez. Cavalgou seu cavalo até avistar o que seus homens haviam descrito e chegou até as proximidades de Cinellebard. Lá, aterrorizou-se com o que vira, enormes asas estavam desdobradas cobrindo a terra como lona, o grande torso se enchia tragando o ar a sua volta, a gigantesca cauda serpenteava ao seu redor levantando ainda mais poeira e era impossível discernir a cor de suas escamas, pois estavam cobertas da luz pela névoa levantada, sua face não podia ser vista pois encontrava-se fundo dentro da névoa.
Ereadel aproximou-se o máximo que conseguiu para manter seus olhos abertos e suas pernas firmes e bradou em direção a sombra serpenteante:
_ Meu nome é Ereadel, Príncipe dos Filhos de Artis e Herdeiro da Luz Prateada, Comandante de Meus Exércitos e Primogênito de Elondruel, venho perante a ti o Grande Sombra Que Desdobrou-se da Terra suplicar por seu perdão em nome daqueles que o despertaram, que lhe infligiram em sua calmaria e o fizeram romper tua paz, imploro por sua compreensão, pois não sabíamos de tua presença e se soubéssemos jamais o teríamos atormentado.
A enorme criatura então expirou forte e era possível escutar o tremer de seus pulmões, e eles tinham um som grave que se assemelhava com de cascos de cavalos em disparada. Duas grandes luzes foram acessas de dentro da névoa, como um fogo voraz que permeava a penumbra de poeira, e iluminaram a face da criatura, pois as chamas eram seus olhos. Ao levantar suas asas tragou para perto de si grande quantidade da névoa e quando as fez repousar no chão foi como tufão açoitando a terra ao seu redor, mas não tomou vôo e permaneceu à frente de Ereadel. E então falou, sem precisar que abrisse sua boca, pois ele falava com a força de sua vontade diretamente à mente do elfo.
_ Infeliz é tua gente, Filho de Elondruel, Herdeiro da Dama da Lua, pois interromperam meu momento mais solene e ímpar, do qual jamais poderei refazer pois muitos anos são necessários para que eu cumprisse meu descanso final e minha partida, e tudo que estava comigo fora consumido para tal ato. Tornar-me-ia um com esta terra e meu espírito retornaria para o Eterno Presente, mas coitado foi teu povo quando infligiram o meu corpo e despertaram-me de meu Ritual Sacro, pois já não me restava nada neste mundo nem mesmo razão, nem objetivo aos quais eu estava ligado a cumprir, e agora a única coisa que tenho em minha mente é ira de tua gente por privarem-me de meu ritual. Só me resta agora este sentimento, e a ele estou acorrentado e minha existência só têm sentido assim, pois vá aos teus e diga que eu estou a caminho, aproveita-te que minha sanidade ainda lhe pode ser benevolente pois tornar-me-ei apenas besta desenfreada sem lógica ou discernimento, serei como fera incontrolável e danação de todos aqueles de teu povo que se opuserem a mim, pois esta é a sina que me acometeu. Tomai este aviso como teu perdão pois é tudo que resta de meu antigo eu. Corra e leve todos contigo para o mais longe que puderdes pois, não terá fim minha caça a eles, e serei para sempre preso a esta terra enquanto o teu povo nela existir.
E amaldiçoados naquele momento se tornaram todos do povo de Bellian, pois Khrögmar agora era ira para com eles, e a força de tua existência estava voltada para um único objetivo, e este era a destruição do povo de Bellian.
O senhor Ereadel e sua gente por muito tempo foram dados como mortos por seus parentes(Elerum seu irmão e seus filhos) . Passaram-se mil e quinhentos anos antes que o povo de Ereadel saísse das suas cavernas e túneis subterrâneos, e quando saíram já haviam se tornado outra gente. Suas peles alvas agora eram escuras em tons de cinza e azul, seus olhos haviam se acostumado com a escuridão e passaram a preferi-la, o sol lhes era pouco querido pois atordoava suas visões, falavam em uma outra língua que lembrava a de seus parentes que só os mais antigos entre eles conseguiam compreender plenamente, cultuavam agora Yrwi ao invés de Artis e por esse motivo não mais eram considerados seus filhos. Não estavam mais atrelados ao juramento de seus Primeiros Reis.